O que nasceu 1º? O pé ou o sapato? Gritava eu em surdina para a norma social… A minha filha de um ano já quer andar e se até agora gatinhava descalça pela casa, o mesmo já não se aplica com o caminhar na rua.
Entregava-me a estes pensamentos enquanto ela dormia durante um dos nossos passeios. O que será melhor: aprender a andar descalça ou aprender a andar com os sapatos calçados?
A anatomia do pé é fantástica, super adaptada à nossa postura bípede e locomoção, com as variantes do passo, marcha e corrida. Na Natureza, quando queremos identificar um animal pelos indícios de presença, um dos mais inequívocos são as pegadas e trilhos. O formato da pata, a biometria, os locais onde a pata toca no chão. Onde não toca são os arcos, desenvolvidos especificamente para que o indivíduo se movimente no meio ao qual está adaptado.
Vi-me a “andar” umas centenas de anos para trás para os Homo sapiens que usaram os primeiros sapatos: quando as primeiras populações chegaram a latitudes mais elevadas, cedo a selecção natural deve ter favorecido aqueles que, nas estações mais frias enrolavam peles à volta dos pés. Atalho de foice, deveria proteger mais a sola das irregularidades do terreno, favorecendo entre outras actividades a caça, tanto na água como em terra, as deslocações quando ainda nómadas ou transumantes, evitando feridas e posteriores infecções. Mais tarde, com a sofisticação do pensamento humano, o estatuto e sempre em nome da produtividade, acrescentaram-se as finas solas ao calçado, cuja espessura foi ficando tanto maior quanto mais sensível e fina ficava a pele da planta do pé. Se a sola fina já afectava muito a relação do Homem com o chão que pisava, a sola grossa aumentou o problema…o caminhar torna-se pesado, todos os arcos do pé se perdem e toda a anatomia se foi moldando a esta nova e fantástica descoberta (para os sapateiros, boticários e civilização em geral, claro, que isto de andar descalço é para selvagens). Quando falo de anatomia, tenho em mente que a alteração ou adaptação anatómica precede processos psico-fisiológicos e/ou vice-versa.
Assim, quando nas aulas falo aos meus alunos de “activar os pés”, formar o arco interno, externo e transverso, ficar no centro da perna, libertar a pélvis pela consciência dos pés, para os iniciados é muito, muito estranho. Olham para os pés que estão a milhas de distância, lá ao fundo, junto ao chão, longe do cérebro e pensam se realmente estou a falar dos pés que enfiam no sapatos todos os dias ou se será uma parte do corpo especial e desconhecida até então e à qual só os yogis dão importância por questões certamente esotéricas, leia-se freaks…Até porque se compram ténis caríssimos onde se compartimentam os pés para que fiquem bem protegidos…o que acontece é que perdem a capacidade de defender todo o corpo que se ergue tanto mais íntegro e longo quanto mais enraizados estiverem os alicerces. Como dizia Vanda Scaravelli “quanto mais profunda a raiz, mais alta se ergue a árvore”.
Conclusão? Felizmente o pezinho da minha filha é pequenino, não encontrei número que lhe coubesse de entre as marcas que valem a pena, portanto continua de pé nu a tentar caminhar pela casa ou meiinhas (será assim o diminutivo de meia?) anti-derrapantes…
Deixo uma pergunta: como seria o mundo se andássemos mais descalços?
Entregava-me a estes pensamentos enquanto ela dormia durante um dos nossos passeios. O que será melhor: aprender a andar descalça ou aprender a andar com os sapatos calçados?
A anatomia do pé é fantástica, super adaptada à nossa postura bípede e locomoção, com as variantes do passo, marcha e corrida. Na Natureza, quando queremos identificar um animal pelos indícios de presença, um dos mais inequívocos são as pegadas e trilhos. O formato da pata, a biometria, os locais onde a pata toca no chão. Onde não toca são os arcos, desenvolvidos especificamente para que o indivíduo se movimente no meio ao qual está adaptado.
Vi-me a “andar” umas centenas de anos para trás para os Homo sapiens que usaram os primeiros sapatos: quando as primeiras populações chegaram a latitudes mais elevadas, cedo a selecção natural deve ter favorecido aqueles que, nas estações mais frias enrolavam peles à volta dos pés. Atalho de foice, deveria proteger mais a sola das irregularidades do terreno, favorecendo entre outras actividades a caça, tanto na água como em terra, as deslocações quando ainda nómadas ou transumantes, evitando feridas e posteriores infecções. Mais tarde, com a sofisticação do pensamento humano, o estatuto e sempre em nome da produtividade, acrescentaram-se as finas solas ao calçado, cuja espessura foi ficando tanto maior quanto mais sensível e fina ficava a pele da planta do pé. Se a sola fina já afectava muito a relação do Homem com o chão que pisava, a sola grossa aumentou o problema…o caminhar torna-se pesado, todos os arcos do pé se perdem e toda a anatomia se foi moldando a esta nova e fantástica descoberta (para os sapateiros, boticários e civilização em geral, claro, que isto de andar descalço é para selvagens). Quando falo de anatomia, tenho em mente que a alteração ou adaptação anatómica precede processos psico-fisiológicos e/ou vice-versa.
Assim, quando nas aulas falo aos meus alunos de “activar os pés”, formar o arco interno, externo e transverso, ficar no centro da perna, libertar a pélvis pela consciência dos pés, para os iniciados é muito, muito estranho. Olham para os pés que estão a milhas de distância, lá ao fundo, junto ao chão, longe do cérebro e pensam se realmente estou a falar dos pés que enfiam no sapatos todos os dias ou se será uma parte do corpo especial e desconhecida até então e à qual só os yogis dão importância por questões certamente esotéricas, leia-se freaks…Até porque se compram ténis caríssimos onde se compartimentam os pés para que fiquem bem protegidos…o que acontece é que perdem a capacidade de defender todo o corpo que se ergue tanto mais íntegro e longo quanto mais enraizados estiverem os alicerces. Como dizia Vanda Scaravelli “quanto mais profunda a raiz, mais alta se ergue a árvore”.
Conclusão? Felizmente o pezinho da minha filha é pequenino, não encontrei número que lhe coubesse de entre as marcas que valem a pena, portanto continua de pé nu a tentar caminhar pela casa ou meiinhas (será assim o diminutivo de meia?) anti-derrapantes…
Deixo uma pergunta: como seria o mundo se andássemos mais descalços?
2 comentários:
uma coisa é certa, se andássemos descalços em cima da terra (não do alcatrão) não teriamos perdido a ligação à Mãe Gaia
Em Lisboa... imaginei as ruas mais livres e suaves, sem lixo, sem "obstáculos" de animais, com calçada lisa e aquecida pelo sol... se não existissem sapatos o mundo seria mais real, sem dúvida, mas os comerciantes da Baixa logo espalhariam tapetes pelas ruas! ;-)
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